sábado, 17 de dezembro de 2016

Minha hipocrisia se desnuda
envergonhada, na tua cama.
Fazem uns tempos que já sei, que só sei fazer amor,
e o desdenho como uma apaixonada pelo errante.
Por isso escrevo poemas.

Por todas as vezes que me pego no pulo,
mas não consigo com meu peso.
Vou ao chão, meu já tão conhecido.

Não me olhe por tanto tempo,
nessa lua que míngua.

(Apostamos com dados viciados.)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

o labirinto

Entrei num labirinto desconhecido,
bonito que é uma coisa.
Tô tranquila que trouxe lanche pr´uns três dias,
no terceiro dia, cedinho já...
começo a procurar a saída,
ou lugar pra plantar.

Meus planos só mudam de labirinto.

Novato

Não me estranha, que estranhes
que minha avó seja a melhor pessoa para conversar
sobre os livros em comum que já lemos.
Tu tem a pressa de um novato em qualquer coisa.
Até quando massageia as minhas pernas.
E aqui não foi assim
com tanta rasgação de seda azul,
tanto gomo, tantos dedos
foi com um sempre riste,
no meio da testa,
das pernas,
das tetas.
um riso de malícia,
um desdém,
um apossar-se
uma cadeira puxada é pagamento
pra não dizer que tomou á força,
pro julgamento na posteridade.
Aqui é na trovoada,
na pexeira,
no murro, na ponta de faca.
É cravado na clavícula do psicológico,
é ameaça de tirar as crias,
de infernizar a vida,
tudo em nome do amor.
Aqui é na base da quebradeira,
da pancadaria.
"Faz lá meu ovos bem mexidos, e do pão uma fatia"
É na base dos princípios do príncipe.
Aqui a lei que te tira pra loqui,
nos joga mais pro descarte.
Cê qué se fazer de
" trataram como casca a minha banana"
Teu ego fétido se inflama.
Eu quero mais que te traia a braguilha.

A bomba

A bomba está armada.
quem que armou?
Apontada pra tua cara,
que sempre lhe foi cara.
E quando explode não sobra nem
a tua camisa engomada,
pela dona Amália,
a pobre louca,
a tapete.
Nem teu topete,
pra contar a história
mentirosa
do teu heroísmo.
E agora "Deus nos dá a mão"
Cheia de anéis de ouro.
Da inquisição
Do holocausto
Da escravidão.
Nem em nome do teu pai.
Nem pelo teu desdém ao teu filho.
A bomba sopra como um espírito,
na tua face de santo.
Estoura também teu pau oco.
Matou então, no meio do passeio público,
a sangue frio...
Todos os sentimentos,
que não ouviram
" pro chão".
Porque não aceitou a morte natural
daquele que já adoecia lentamente.
Alegou legítima defesa.
E eu que fui presa.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Não sei quantos sambas,
deitada nesse mesmo quarto,
já te dancei á sala.
Daqui, me entreguei aos teus quadris, descalça.
E na cuíca meu pescoço passou a receptáculo de beijos,
e nos tambores teu sorver.
E vide em versos.
Cabelo solto na tua mão.
poros á postos,
paredes que evitam o chão.
E eu fico tão nervosa quando cá estou,
que pareço ter dois pés esquerdos.
Até parece que és a primeira,
que me chamou pra dançar.

sábado, 3 de dezembro de 2016

Vênus

É Vênus que aparece ali, não vamos confundir com estrela.
Já confundimos tanto...
O mundo barulha, insistente na negação.
Tipo a morte, mas mais leve se não pararmos o olhar.
É a leveza que deu pra amontoar coisas,
e quando partiu nem aguentou tudo nos braços.
Disse abanando um lenço, que manda alguém pegar o resto.
Temo campainhas.
Nunca levei jeito pra zen.
Yoga me doí o ciático, meditar me dá tonturas,
talvez eu tenha que pagar com juros, saldo negativo, o excesso de amor que consumi,
vezes que espalhei litros dele pela casa, e dei festa bundalelê,
cheio de rostos escarlates-embriagados, que vomitaram no assoalho,
e sequer se despediram ao sair costurando a rua.
Falei que Gal não, ontem ainda...
Eles me tomaram por insensível, veja só, logo eu.
É Vênus sim, mas ela não flerta de volta.

calosidade

Meu sapato batido,
deu pra dobrar a língua,
e lamber o meio dos meus dedinhos tortos dos pés.
O mais próximo de afeto recíproco,
desses dias que já não conto mais
Na confissão, ninguém fala mal de ninguém, por mal.
É que as trinta virgens-marias doem quando são em penitência.
Pai nosso é quase um olho no rosário, olhando no fundo do teu olho culpabilizado,
por ele mesmo, claro.
Tá escrito lá no livro.
No mesmo que diz que só ele grandioso olho, é quem pode te julgar, e a fulaninha também,
aquela biscate que abriu as pernas e agora não quer ter.
Tua irmã.
Tá lá nos registros do livro.
A assassina cruel do teu irmão mais novo.
Aquele pobre coitadinho, de três meses.
Que tu não convidaria pro jantar de natal,
ainda que o olho de gente dele,
te contasse histórias de fome pisca-pisca,
Ou de tristeza de chester recheado.
Ou vice-versa
Você não convidaria
porque bem, ele não é da sua família.
Mas pegou o nome de um filho-da-pobre qualquer,
lá na árvore do Shopping-Multi-Center-wow, da beira mar.
Vou dar um brinquedinho pro infelizinho,
ficar feliz.
Na confissão ninguém fala mal de ninguém por mal.
É sempre pelo bem da (primeira) pessoa, que se confessa.
Diante dos olhos enormes.
Esperou me encontrar sôfrega mas taciturna.
Juntando ainda, as chepas não totalmente fumadas
dos seus cigarros adocicados,
fina de olhos compridos, como se acordada pelo estômago em fome,
de uma noite febril.
Me procurou suando frio, esperando que eu ainda precisasse que tu,
mais alto, acendesse as lamparinas da noite escura.
Me esperou passar lânguida pela janela que dava pra rua,
com o semblante de uma mulher que era pra ser tua.

Não me viu. . .

Mas eu te vi passar recitando velhos poemas,
espalmado as paredes do passado.
Mais um pobre homem preso,
na sua figura de coitado.
Valentina nessa época do ano
mais propriamente em certas luas
como a de hoje...
Sente calorões que a fazem rolar no chão.
se arranha toda...
Ontem achei até bigode de gato pela cama.
Se tira pedaços, a bichana.
Dizem que se o gato é diferente do dono,
é roubado.
Ainda lembro do dia que ganhei ela.
Ela falou que tudo
na ponta da minha língua
virava poesia.
E eu esperando
que ela se tornasse então
uma na minha letra.
Escrita num dia de chuva,
tipo hoje.
Quem sabe se eu descrever os teus fluídos
no escorrer em minha boca...
Eu deixe de ser essa poeta medíocre.
Venha e me prove do seu altruísmo.
Se não der certo, vai dar arte.
Teu estado não se move.

viscosa

Essa languidão amanhecida nas pernas
acompanhada á essa rubrica crivada na minha intimidade
ainda latente, crepitante.
Recorrente desse mesmo estado,
de ontem a noite.
Perco ônibus como uma perdida.
Eu que já fui associada á britânica por uma firula
de estar lá no momento combinado.
Tenho mantido o estado de bagunçada,
que me alçou desde que aprendi
a masturbar meu imaginário.
Já não sei se vivo nesse mundo.
Olha que perigo,
um mundo com tantos carros.
Talvez de tanto não estar aqui,
um deles me atropele
ou me leve até você.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Tonta de vitamina D, sem você

O sol forte
tem a sorte
de lamber a minha pele.
Pois do outro lado da calçada
sentem calor também
os machos das cantadas.
E eu vou ficando sem querer,
um pouco bronzeada.
Ah, se não fosse esse
desenho de regata.
-E eu só queria te chamar
de sol.-
Perder as chaves,
é pior no retorno.
Mas sempre tem aquela janelinha aberta.
Cê sabe que eu sei, né?!
E eu as vezes até encontro na bolsa,
mas me finjo de mais ébria.
Gosto do aperto.
Meia noite e tanto,
já não sei se falo de casa, ou de ti.
Hoje eu tô no veneno
E ele não mata
Nem engorda
Nem faz nada
Nem te toca.
Vomito amanhã
Ou ainda nessa madrugada.
Desgraçada!
Não sei quem de nós.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

engole ou vomita

Diz que vai permanecer
as lingeries nas minhas gavetas
pois não tenho como ser pior.
E eu só com vinte e sete,
com um nervo quase novo
que se enrijece,
a subestimares romantizados,
vou guardando um já coalhado
leite morno pra tua sede.
Tu sabe que não quero ser a vilã,
mas já desvendei o nó dos teus novelos,
e sei o que é esperar tuas costuras
nua, no inverno.
Tem essa dureza da água,
aqui no meu mapa,
e eu tô guardando feito idoso,
esses teus porta-retratos quebrados,
que nunca guardam o meu rosto.
Não é vingança,
porque frio ou quente, não me apetece o paladar.
Chame do que quiser o que te sirvo no jantar.

Acendendo um na xepa do outro

Quantas voltas és capas de girar
antes de ficar tonto?
Quantos cigarros, e furadas,
antes dessa tosse de senhora amargurada?
Vinte e poucos km rodados.
Eu acho que é agora que vomito.
Tá vendo meu coração bem louco atrás dessa camisa?
"O Universo não seria tão desumano",
é isso que você diz pra servir de consolo?
Consolo esse que me serviu pra nada.
Mais uma furada.
Vamos listar?
Quantagésima nessa listinha aqui.
Número um na do medo.
Amanhã é o teste.
Seria irônico se eu pedisse que eu passe?
Juro que paro com os cigarros Universo,
me ouve?
Eu juro, juradinho.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Que morte lenta; é o fim do encanto

Enquanto caga de manhã, de porta aberta,
livre de todas as amarras da sociedade,
vai me falando:

-Namaste bonitinha, que lindo dia de sol, minha flor de maracujá.
E depois, do jeito estranho de Francisco.
Que Marcinha da venda, já tá de rolo com outro,
mas que o último era mais bonito.
Do fedor de trabalhador de obra do seu Kiko da portaria noturna,
que achas que ele é pedreiro de dia.

Diz que Deus abençoe essa gente pobre e sem decência.

Enrola um papel de folha tripla,
macio pro seu cu de gente rica,
em três voltas generosas, e limpa um freadinha
de merda dura, e ainda ri.

-Sujou nada!

Eu vou me enervando de ser sensível
à tua já tão manjada hipocrisia,
começo a cagar também no seu dia,
com meus silêncios maçantes.

No fim do dia já cansada,
dou beijinhos na sua adorada,
tu sente gratidão lambuzada.
e eu fico meio enojada.

Mas nunca sirvo pra Mártir...
Sei que exponho teu orgulho,
escondendo o meu tipo o Mário,
atrás do armário,
e sei que ele também já te fodeu,
em outros poemas.

Amanhã tá decidido, tô indo embora.

Pesadoras de rolê

·
Diz Criolo assim:

-"As pessoas não são más, elas só estão perdidas", cantando...

Exceto nós meu bem, nessas letrinhas

Só que eu me açoito a noite,
você gosta.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Des-figurado.

Sinto muito,
se sentes que sinto pouco,
o sem rumo pegou as rédeas e me levou pra campos distantes,
onde o pasto é mais calmo,
meu garanhão tem disparado,
e cada vez que olho pra trás só encontro a fumaça da sua chaminé.

Pouco encontro de ti entre lembranças e recortes de falas decoradas.
Noite passada te encontrei em sonhos,
sei que era você
apesar de que ali não possuía uma face, e sim milhares delas,
o sonho traz as lembranças mais remotas,
ou os desejos mais intensos...
Subjetivamente, queria eu então...
Que você possuísse o tanto exatos de caras que você demonstra ter?!

Se um um próximo sonho te trazer nas rebarbas dessas lembranças,
venha sem cara, e sem coragem.
Quanto mais real,
melhor.

Mas, esses teus horários

A eletricidade aqui acaba cedo,
venha enquanto é tempo.

Logo quanto o ombro tá dando bandeira
trepidando, dançando
pacto com o vento, sabe.

Eu peguei sol
mas é pra amanhã.

Aprendi a me guardar.

O conteúdo da garrafa
na sede de passado o dia de semana
também não dura quanto o vidro.

Eu tomei um litro de redução de danos
já tô pronta pra outra.

cativeiro

Fechou a porta
com estacas pesadas,
chaves mestras,
trancas, pregos.
Ali não se regressa, você falou.
E deu os passos duros...
Duro será no meio do caminho
lembrar que não levou as calcinhas,
deixou a escova de dentes na pia.
E eu lá dentro ri.
ignorando o capitalismo,
e a saudade que vai entrar
amanhã pela janela.
Mas agora eu ria,
compulsoriamente.

nem 1 A

E ela em fúriazinha
vermelha nas bochechas
pé esquerdo tremelicandinho.
Desceu até o final as letrinhas
Sem olhar minha carinha,
por nenhum versinho sequer.
Saiu gritando e esbravejando.
- Que você nunca mais escreva um "A" pra mim.
Picho os muros da quadra dela.
TE MO, TE MO, TE MO.
Sonhei que a gente se pegava
com todos os diálogos possíveis.
Mas não se pegava de fato.
Mesinha de boteco no meio.
Até parece essa estrada.

domingo, 13 de novembro de 2016

O estranho que pode ser até homem
pode ser extraterrestre
que deu azar de tentar se comunicar
justo comigo.

O estranho que vai se cansar
também.
Olha que nem tirei no tarô
mas já sei.

Não sei com que intenção vem.
Mas sempre sei dos retornos.

" olá estranho
você vem sempre aqui
ou você nunca saí?"

Eu vou falar pra ele tudo.
Vou contar até dos formatos,
mandar foto.
embalar cheiro, mandar pelo correio.

Ai ele vai partir, cheio de mim
tempo depois
dizendo que achou o que procurava
em alguém de menos bagagem.
Você sabe, de novo.

Sou eu que nunca acho nada.
Além de estranhos.
Gosto do lopping infinito
esse designar de repetições
mas não ação, não tanto da ação.

Você sabe como agi?
Daquele jeito de novo.
Mas ontem não teve vidro quebrado
quebrou só mais uns pedaços desse já tão goteirado
peito, inflado, inflamado, quase maldito.
nem foi notado de tão repetitiva reação.
Maldito coração.
Mas ai seria o filme com a Asia Argento.

Tudo é referência.

Tô saturada, saturada, me leve pro mato
e deixe lá.

Em lopping infinito

"You don't know me
Bet you'll never get to know me
You don't know me at all"

Se conhecer é pior que não...
A gente não tem desculpa no domingo
Porque sente culpa nenhuma.

Mas o mau é o mesmo.
Doí no grelo.

sábado, 12 de novembro de 2016

Quando no teu tabuleiro.

Vamos lá..
Me teste.

Me re-prove.
Me coloque no segundo plano.

Tenho propensões a fazer ser gostoso
Esse engano.


Não sou do jogo
Mas sempre fui da cachaça.

Que número tem que dar nos dados
Pra te beber no bico?

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

"Não tô triste, eu só estou cansada"

Eu não sei também o que fazer,
mas não podemos ser tão perdidos juntos.
Diz-o-ditado, que hoje em dia mal-se-diz,
que "sonho que se sonha junto é realidade"
Há quanto tempo tem tido esses pesadelos?
Eu faz uns meses,
a partir de quarta sempre se intensifica,
cansa também o corpo, a vida.
Eu também tenho olhado mais os pássaros,
não porque voam, sabe?!... porque estão.
Onde que eu tava mesmo?
Ah, sim... no perdido.
Chamo de João, o perdido que converso,
ele não fala, não assim com a boca
como nós só sabemos fazer
é como conversam as pessoas com o Universo
sem enxergar muito bem.
João me diz sempre pra olhar os pássaros.
Fico com meus olhos de João,
contemplando vezes pássaro,
vezes confusão.
Queria olhar um pouco só com o olho,
como fazem os que não sentem da visão.
Contemplar é pra bonito né?
Como a gente chama o olhar injetado pra coisa feia?
Eu não chamo, mas assim como os pássaros, estão.
Desculpe não manter a linha de raciocínio,
Já estamos na quarta.
Não sei se falo pra João que tô cansada dessas histórias
q´ele insiste em repetir...
Vai que ele se apessoou e leva pro pessoal.

mau grad(t)o

Então eu fiz assim
joguei os papéis todos no teu colo
os multi rasurados escritos em guardanapos
os palavrões,
os sussurros traduzidos nas linhas azuis dos cadernos brochurão Tilibra.
As palavras que eu mesma escrevi e já não conseguia ler.
Os bilhetinhos com desenho nas bordas.
Os brancos amassados que não sei por que não joguei fora.
Tudo no teu colo, horas e horas de mim,
alguns com remetente descrito, nunca remetidos,
mastigados até o fim na minha boca, vomitados ali,
e guardados cheirando no armário, a minha falta de coragem.
No teu colo esse eu de todas as cores de canetas,
todas as grossuras de letras, as finesas, os borrões.
E você que esbravejava o nunca me conhecer,
me chamou de acumuladora, me acusou de passageira, de remota,
certeira na tua fratura exposta, me romantizou ciúmes,
se disse puro e punido.
E nem uma vírgula foi lida,
antes de jogar tudo pro ar.
Teu colo é vão, guarda só falo e eco.
E eu que te li desde o começo,
só agora escrevo tua resenha curta:
livro ruim esse intitulado nunca mais.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

mergulho

Vou permitir que escorra,
pois está com muita lama,
e já não querem se multiplicar os peixes,
os já vivos perderem escamas,
e me cobram na sua língua...
(Ainda que me pareçam
apenas círculos na superfície
eu escuto quando mergulho.)
Vou permitir que escorra,
pois está com muito entulho,
e as plantas já não são tão verde água,
reclamam fragmentos de sol,
já não dançam sem correnteza,
e me cobram na sua língua...
(Ainda que me pareçam
apenas sombras na superfície
eu escuto quando mergulho.)
Todo ser humano que vive,
acumula lixo,
alguém me disse...
Me espantei no meu riacho.
Recolho tudo,
sem saber onde recicla.
Há de ter lugar...
Se não tiver, vira arte.
É da minha natureza
crer que tudo se transforma.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Mesmo ferida, não vou te pedir impossíveis.


Sei que me quer riso, e muito sol,
sei que te agrada quando assim sou.
Mas acontece que esse mundo e o outro,
tem me posto no fogo,
só porque já me viu queimar.

E ai eu vou cavernando tudo isso,
eu tenho propensão á buracos,
E quando tudo depois passa,
tu chega com picaretas,
mas eu já nem tenho unhas.

No fim sempre cristaliza,
viram tesouros, essas vivências.
E sempre desenham mais nitidamente
semi-companhias.

Mas obrigada,
por tentar me entender
pelas metades.

domingo, 30 de outubro de 2016

Fui eu que permiti, que se escrevesse essa história.
Eu que quis protagonizar,
e agora agonizo,
como se não tivesse escolha,
balbucionando mentirinhas delicadas pro espelho.

"a culpa é cristã, eu não."

Você falaria em passado, pra consolar,
crendo piamente que adiantaria,
mas nos mentiram isso também.


não tem borracha que apague o já sentido.

Mas o tempo diz que tem um suvenir que adianta...
numa de tantas quitandas de interior.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Dança

De possuir coração ritmado, dancei...
Pelas ruas, praças, sem sapatos,
em pequenos palcos,
que não eram, mas se tornaram...
Como eu também não era, e passei a pássaro,
bailarina, uma lagartixa,
ou qualquer outra coisa, mística,
por que não se explica,
como uma sensação.

De possuir coração ritmado,
sempre há uma música que ouço dentro,
e que instiga os pés,
que balança a cabeça,
que inicia uma coreografia,
sem par...
Por favor sem par!

Só me deixa dançar,
como me dançam as horas,
e algumas pessoas,
e uns pensamentos, que invadem o salão,
e se retiram tontos,
os que não sabem girar.
Tão institiva, que até quando perdida,
pensava estar menos perdida
que da última vez.
Batia palminhas para seu próprio tato,
preciso no escuro,
encontrava certos escondidos,
de todas as formas,
normalmente o que procurava outr´ora.
Mas para isso não contava com o tempo,
o que importava era se encontrar,
ou encontrar alguma coisa.
Na primeira de muitas vezes,
por um lado, conseguia os dois...
Na segunda, de outras vezes, errava tudo.
No começo é sempre engraçado.
Depois...
Mas era tão institiva, que até quando perdida
pensava estar menos perdida que dá última vez...
(Repete_Patrycia Waltrick)

Arabescos (trechos)

I.
Não sei quem planta expectativa,
mas conheço a semente.
Devem ser os pássaros que derrubam dos bicos,
porque voam.
Aqui no quintal, parece festival de penas e cantos,
e sempre tem coisa brotando,
mesmo com minhas unhas limpas.

II.
Tenho que administrar o que quero,
pra que o universo não se atole de mim,
pra que ele não se confunda,
nas minha insônias confusas.
Mas das cinco até o sono, eu sou só querer.

III.
Vou fazer um diário,
espero não escrever seu nome
a partir da terceira folha.

Dor de garganta

Você é só palavra, ela falou.
Bem assim:
" você-é-só-palavra! "
E eu fiquei, com palavras trancadas na garganta,
e no dia seguinte jatos e jatos de própolis com mel,
duas folhas de malva, água morna e uma colher de sal.
Palavras nos cigarros apagados no incensário antigo que virou cinzeiro,
cinzeiro de incensário antigo cheio de palavras cinzas,
Palavras em negrito nos pedações de pulmão na pia de manhã,
palavras roxas de olheira.
As portas quebradas do guarda roupa de infância,
escritas as palavras inocentes,
nas paredes do quarto de dormir estavam as palavras de sonhos recorrentes,
nos cadernos de rascunho, rasuradas as palavras de devaneios,
até na pasta de protocolo de desenhos,
tinham as palavras de 6b e faber castell.
No pente de cabelos, fios de palavras emaranhadas,
na mesma letra emendada das palavras das entranhas,
palavras escondidas nas rachaduras da boca,
palavras arrepiadas no bico dos seios.
E eu com palavras trancadas na garganta,
só queria dizer: -olha aqui ó moça....
....
...
Mas as palavras não saíram.







domingo, 23 de outubro de 2016

Espero a tua fome

A noite tem dessas coisas,
de acender algo, fervilhar outros, borbulhar alguns.
Continuo cozinhando aquela ideia que te falei noites atrás.
Tenho salpicado uns temperos,
nunca fui de menosprezar paladares.
Terá recheio, se prepare.
Logo mais dá pra assoprar e provar.
Não é bolo, mas a primeira colherada é tua.
Sim, se come de colher, sem cortes...
Tem mais a ver com abertura da boca,
gosto de entregar pratos assim em grandes proporções.
A noite tem dessas coisas de desejos pesados,
assaltos á geladeiras, contrastes com calor que sinto,
aqui...
Nessa casa que habito, nessa particular cozinha que cozinho.
Fervo àquela ideia de noites atrás,
Dá pra sentir o cheiro portar afora,
A mesma porta que te quero dentro.
Deixo esfriar no balaústre, ao relento,
espero que não demores muito.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

(lasca de lar)

Seria egoico se eu dissesse
que guardei um pedaço de mim
em um ninho que construí...

Parecido com esse que constróis
sem ver que pouco a pouco traz ramos
grudados à sua roupa?

...E que o pedaço foi extraído
de um dia tão bom,
que eu poderia crer que era o melhor
que já extraí?

E se eu contasse que volta e meia, eu abro ele pra que eu lembre...
E se dissesse meio apaixonada...
Que só de abrir, o ambiente se inunda de cheiros,
de cores, de músicas, de filosofias
que já me eram conhecidas...
Mas que foram se apagando...
Diante de tanta cultura, diante de tanto mundo?

Seria tolo se eu recomendasse?

Então não digo,
não conto,
mas algo em mim insiste que eu recomende
algo de ti.





segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Eu tenho vontade de desenhar sentimento.
O invisível visto em todo momento.

Vezes galante, vezes maltrapilha.
Sempre a mesma cara,
de frio na barriga na descida.

Vontade de desenhar das cores do sem-sentido.
Tipo esse poema, e todo o resto...

Que habita em todos os segundos-vividos,
a casinha de teto frágil,
em cima do nosso umbigo.

(Que você tinha a chave da porta da frente nº 27, verde água_Patrycia Waltrick)

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Vestido pro frio, mas nu

Queria conhecer
alguém que se conhecesse
ou tivesse no caminho
como eu, mas que as vezes também saísse da trilha.

Queria que já fosse cansado
de amar-o-amor
e só contemplasse seus momentos.

Queria alguém pra uma cerveja
seguida de outras,
que quisesse cutucar minhas filosofias
e não tirar a minha roupa.

Queria que tivesse tédio
desses joguetes tolos
que não quisesse me impressionar
mas conseguisse.



quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Tava no ônibus hoje, como todos os dias naquele horário,
e vi passar lá longe na rua, uma senhora que era eu.
Parece confuso, eu sei... Também achei quando vi.
Ela tinha a mesma corcunda que eu tenho agora, mas mais acentuada, o cabelo fino e branquinho,
de lado o cabelo, e ela também andava meio de lado,
mas com um semblante reto, na rua transversal.
Eu agradeci quem organiza as sinaleiras, ela fechou,
me deixou ser vista por mim.
Tive certeza que era eu, porque ela me deu a coordenada visual da primeira andorinha que a gente viu esse ano.
A gente riu, a gente gosta ainda....
Não sei quantos anos a gente tinha lá fora do ônibus.
Tenho certeza que nem ela sabia, sendo que hoje já me confundo...
Parto pros dedos, e conto causos estranhos que não lembro o final.
Ela carregava uma bolsa, e queria eu saber o que eu carregava ainda, já naquela idade, que não sabíamos qual era.
Ela tava indo encontrar o amor, mas não sei onde ela ia.
Sei porque ainda que fosse o final, eu iria.

(De "manhã-cedo", eu, minha velha e a andorinha

metaforicamente-falante

Agora que já engatei a primeira,
dessa vida sem esteira,
mas quase sempre a beira,
de alguma coisa grande...

Vou me desengatar do maquinário,
Dessa sinopse "dark" de algum diretor sem esplendor...

Vou ser o que incomoda, coisa que eu sempre ensaiei sozinha,
mas nas mais belas " piores companhias" que alguém que pode ter.

Vou ser a mulher que não se encaixou no papel desse Hollywood da realidade,
(Graças a Deusa) e vou sair rindo, sendo...
Isso, sem reverência,
cheia de referências, reciclagens...

Agora que eu já engatei a primeira,
pouco importa se você apertou o cinto,
ou saiu pela porta.
Já tô partindo.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Acho que tô beirando o berro.

Aquela saudade de coisas pragmáticas,
que tem mas tá em falta.
O mapa cheio de virgem, Vênus inclusive,
a poesia que não é compreendida,
só quando escrita no lençol,
eu vou, dessa vez eu vou fechar o ciclo.
E ai volto a fumar, a beber e você.
Aquela pragmática que me abandona na realidade,
e volta de manhã cedo, atrasada, sem café e vai, faz o mesmo,
a esmo, de beiço, e se recupera em janeiro,
que ainda tá longe, nós também, e eles todos.
A gente ri e vai e fala coisas bonitas que tem no nosso coração,
e no outro dia de ressaca não se acha bonita, não acha as coisas na gaveta, vai sem.
Achei a meia laranja atrás da cama, então tudo é possível,
que sarro, agora dei pra ver graça nas desgraças e volta e sem meia até rio descompassada da piada que a gente se conta todo santo dia.
Um dia vai melhorar, melhoral, milharal, trangênico, meio bosta, meio boçal, meio termo, termômetro, sinaleira.
Vida que chega na voadeira, a gente que quer ser pé no chão.
Mapa astral desenha a confusão, e a gente se mete, menos onde devia se meter, eu vou meter o loco, e vou apostar no de novo, mas só dessa vez.

sábado, 6 de agosto de 2016

Cansei de brincar de pega pega com a menina do teu olho,
cansei porque colocamos muitas barras na brincadeira, e acaba que tu sempre foge,
e eu sempre sou o bicho-que-não-te-pega.
Cansei de correr a esmo, apesar do tanto fôlego que guardei pra ti.

Cansei, mas brinco de qualquer coisa que você propor.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Roupa de ficar em casa

Cê não repare na bagunça não.
Tô de mudança,
isso,
tempo todo, rssrs
Cê pode dar a volta que ali no cantinho tá meio fresco ainda, sem brita, sensíível...
Seria melhor se não tocasse, caminhos novos já com rastros ficam um tanto irreparáveis, só com camadas e camadas, e...
Pode sentar ali, do lado daquela montoeira de coisas empilhadas..
Cê quer café?
Quer com leite?
Gosta de amenizar as coisas?
Tô sem cortina ainda, mas gosto como a luz entra nessa parte ali onde vou por alguma coisa com um vaso de flor em cima..
Aquele quadro ali? ah foi uma paixão devastadora, não lembro o nome... Que me deu...
Bonitinha a lua né, uma graça...
Eu? Vou bem, nossa, bagunçada, bagunçada mas quase em paz.
As vezes nem lembro da idade, vinte e poucos, sem carreira sem filhos sabe como a sociedade me chama?
Já com rugas, ainda criança.
Desculpe perguntar essas coisas, é que eu nunca sei...
Porque veio?
Melhor aquela parede em branca ou verde claro?

terça-feira, 12 de julho de 2016

Das coisas que deixo, das coisas que peço

Eu deixo as malas na varanda,
os lamentos ensaboados na pia,
o carro na contra-mão de qualquer via.

Eu deixo as vergonhas expostas,
as cartas amarelarem, sem resposta,
os duendes secarem as maçãs.

Eu deixo que se formem teias.
Que as bruxas montem um coven no meu jardim,
ainda que sem mim...

Eu deixo que seque a roupa no varal,
deixo que arda todo o sol,
que caiam estrelas cadentes.
Guardo pouca coisa pra mim,
sempre conto os pedidos no fim.

Eu deixo que se realizem, todos os fechamentos de ciclos,
planejo todos os Sabbath, rezo pra Gaia,
Virgem Maria, ou Iemanjá.

Nem toda santíssima personificação deve ser surda.
Deixo o que tiver que deixar,
alguma tem que escutar.
Alguma que te instigue a ficar.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Na geladeira: Pegar Felicidade 17:35 na estação B do metrô onde a deixou.

Pra minha felicidade, tenho um colchão no armário, duas cobertas ensacadas,
escova de dentes da cor que ela gosta...E bolo pronto, pois não sei de doce.
Pra ela eu troco as flores, queimo incensos leves, escovo os tapetes...
Quando ela anuncia que tá vindo, eu já vou até rindo, sei dos planos da danada.
Quer me levar á noitada, dar uma guinada, como se eu as vezes fosse leme perdido no vento,
desmitificar meu nada (que sempre me afundo) ai ela chega e me joga no mundo, toda empolgada,
como se soubesse a jornada, e eu sempre esquecesse.
Ela parece até que tem sirene que toca, quando eu toco, toco e não sinto nada,
ela parece palmada que se dá, quando a criança nasce e diante do mundo, fica chocada.
Eu choco, choco, como carrinho de choque, e ela sempre chega pra me indicar onde estacionar,
dar sinal, e por onde de novo ir.
Pra minha felicidade, eu até mexo com panela de pressão, hoje vai ter feijão...
Ela tá de chegada...

De passagem, eu agora já sei,
depois de tanto contemplar a janela...
De passagem, sim,
mas de mudança também.





segunda-feira, 27 de junho de 2016

Mas as cavernas não morrem

Morre tu, mulher.
Tuas curvas morrem, morre teu ventre,
Morrem os seios que alguns homens morreram de amores,
que tu escondeu porque o desejo usava adjetivar-se de amor.
Morre tua vagina, que por tê-la tantas vezes, quiseram te ditar alguns afazeres, que por tê-la tantas e tantas vezes pensaram que sabiam de ti.
Morre teus pés, e morre também quem tu deu a mão.
Morre quem te ofendeu, mulher, por ser o que és.
Morre contigo o perdão.
Morre tua boca, e morre ainda na garganta a voz, mas não morre a canção.
Morre os cabelos mais lentamente que a carne.
Nunca morre o pensamento.

Morro eu, um dia que nem quero ver.
Não morre minha palavra,
ainda que morra seu ouvido.

A liberdade ecoa,
ainda que morram as cavernas.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Nepeta cataria

Um gato te precede,
subjulgado igualmente,
pra que tu não assustes ao chegar.

Outro gato nas entranhas,
sei pelo ronronar que finda teu riso.
Pelas palavras de ranhuras, em certa luas.

Tens o familiar na alma,
uns pêlos, pelos tacos da casa.

Não te julgo, não te jogo,
já sei que cai em pé.

Te reconheço mas arrepio á sua cantoria,
Te reconheço porque somos da mesma gataria.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

nem-cruz-nem-credo-nem-ave-maria.

Acordei no meio da noite e não chamei teu nome.
Sofri e não questionei seu abandono.
Amei em momentos que não eras o verbo.
Caí e não questionei a ausência de amparo.
Conquistei ingrata alguns almejares.
Pois vive em mim teu pseudônimo.
Saí do umbigo, e vi outros parasitas do mundo.
Parece filme de fantasia triste.
A fome de boca cheia te chamando.
Tu mudo, no topo de tudo.
Não posso que digam depois do espirro, que tu me crie.
Cria um amigo igualmente onipotente pra sua carência.
Pois não te chamo ...
Mas dizem que você está em tudo.
Cadê você quando doí fundo, alguma dor incessante dos tais filhos no mundo?
( cadê a benção indiscriminada?)
Tu és o amor, a verdade e a vida.
E tudo isso está em falta.
___________________________________________
Não sei lidar com a crise que vivemos,
Fechou em cinco reais a moeda do Jardim do Éden.
Tá difícil importar amor divino.

ouvido do Zé.

-Você sentiu esse ar, ar de coisa vindo?

- Um ventinho que quer dizer alguma coisa, levantando a pelagem dos gatos...

- Você viu a agitação dos pássaros hoje?

-Tudo em bandinho, uma dancinha entrecortando o céu.

- Você viu como o céu tá bonito, mas tem aquele ar de coisa vindo?

-Sei não o que é Zé, mas sei que quando anuncia, vem...

- Vou passar um café

Cheiro da cena.

Uma música antiga pra embalar esse novo momento.
Que é pra acalentar a ansiosidade de querer o tempo.
Que é pra esfumaçar o ego enraizado, como quem ferve gengibre pra melhorar a garganta.
Um pouco de carícia pra afugentar a solidão, essa que a carne apossou dos sentimentos de madrugada
Que é pra que as dúvidas sejam outras.
Como quem filosofa incansavelmente.
Um pouco de blues no nosso ritual á lua.
A senhora cíclica de nosso ventre.
A senhora mística dos poetas.
Um pouco de vinho, pra que o riso não se intimide.
Um pouco de calma artesanal,
que essas pré fabricada não cabem na minha casa,
não combinam com a decoração...
Uma noite tão mística quanto real.
Como uma mulher que se recuperou do papel,
como tantas, ainda bem,
como você e eu.

Chuva de meteoros.21/04/2016

Eu quero subir a montanha com você.
E quando bem no alto, ver as luzes artificiais da cidade.
Nós seremos o próprio clarão.
Eles pensarão em meteoros.
Nós seremos.

Sem-SAC

Não existe SAC algum, 0800,
que te salve do agora.
Se já jogou a palavra pro universo,
não espere nada menos que a magia.
Vem da cor do pedido,
nem sempre do tamanho ou em tempo exato.
Universo é de humanas,
ainda que a humanidade não o baste.
A moeda é sempre a mesma,
energia.
Tem gente rica que nem sabe.
E de gente assim, eu tenho interesse.
Um genuíno, sem espiar extrato.
A energia é um armazém de tintas.
Tá todo envolto.
Ou tá em falta.

(A crise maior é a espiritual.)

Linha tênue entre o traje-e-o-ultraje

A burguesia dessa Era...
Era mesmo de se esperar...
Quer abraçar um passo na pressa...
Não um modo de andar.
A burguesia dessa Era...
É coisa toda por trás...
"-Também sei dessa arte simples...
Mas quero foto nos jornais..."
A burguesia dessa Era...
Gosta só do que é bom...
Como falar de Nutella...
Se ainda mendigam o pão?
A burguesia dessa Era...
É toda paz e amor.
Vive onde os conceitos de ambos..
São incolor.
A burguesia dessa Era...
Paga pra evolução...
50 pila o chá...
150 meditação.
A burguesia dessa Era...
São como os das Eras passadas.
Vive ali na beirinha...
Não mergulha em nada.

Umbigo.

Quando teus olhos umedecem, sem sorriso de contraste,
eu sinto como se fosse dividida, em outras tantas partes.
Parece que uma parte minha, que ri da vida,
faz as malas e parte,
bem no meio do inverno.
Quando você chora, minha agonia dilata,
sinto como se as mãos estivessem atadas,
e a criação de um novo ideal
fosse máquina enferrujada.
Eu fico tão egoistamente mal,
por não ser aquele leão que vai reconquistar sua floresta.
Eu fico tão imensamente mal,
por você ter que passar pelo que não presta...
Que a utopia da paz, do paraíso, brinca de viver em mim, pra que te receba um dia...
Bem tarde, bem tarde.

Resiste!

E os telhados de vidros, em meio a tanto risco
Que uns chamariam de coragem, outros sabem da necessidade...
Foram todos estilhaçados.

Já sabemos quem atira a pedra.
Já nos cobrimos de algo mais resistente.
Mas não controlamos a chuva.

" Quem tá na chuva, é pra se molhar."

Aqui, estar, não é opcional.
Mas eu estou.

( Resistimos...)

Rolê das Minas.

E rimos gostoso, de lacrimejar e ter uns espasmos,
de fazer barulhos estranhos,
e abrir a boca como temos vergonha,
de quase nos mostrarmos por dentro,
de bater compulsoriamente a mão no encosto do que nos encostávamos,
de acordar os cachorros,
os que dormiam, e os bebês.

Como se não tivesse cessar,
assustasse quem fosse passar,
como se quisesse mascarar,
enfeitiçar, atiçar, os pobres meninos.

Rimos tanto da alegria,
que eles pensaram em bruxaria.

Querido que besteira,
a parte que ri sem eira-nem-beira,
não queima na fogueira.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

A dor do mundo.

Eu não queria, engolir a dor do mundo.
Mas a dor do mundo é um comprimido pra me curar da dor de consciência.
Tomei a dor do mundo com um grande copo de água, pra não me doer o estômago, pra eu não vomitar.
A dor do mundo hoje me pediu uns trocados.
A dor do mundo hoje revirou meu lixo.
A dor do mundo aceitou de bom grado meu suéter usado.
Faltam vários dentes na boca da dor do mundo.
( e a minha dor miúda de qualquer outra coisa, doí menos quando vejo essa dor com falta de dentes ainda consegue sorrir).
A dor do mundo é desnutrida.
A dor do mundo não tem vaidade, pouco se higieniza.
A dor do mundo muitas vezes não teve escolha, não teve escola, não teve herança.
A dor do mundo anda descalça.
(e minha dor miúda de qualquer outra coisa, doí menos quando vejo que essa dor descalça ainda consegue dançar).
Eu não queria engolir a dor do mundo.
Mas a dor do mundo é um comprimido pra me curar da minha dor de indiferença.
Tomei a dor do mundo com um grande copo de água, pra não me doer âmago, pra eu não vomitar.
A dor do mundo fala errado.
A dor do mundo não sabe ler.
A dor do mundo não tem TV.
A dor do mundo não recebe respeito.
A dor do mundo até parece objeto,
que ninguém vê na prateleira.
A dor do mundo é um comprimido, que desce rasgando as minhas entranhas,
é uma dor estranha, que nasce em outro coração,
e cresce (agora) no meu.
Não sei onde morre.
Sei que morre, ás vezes bem jovem, as vezes bem triste, as vezes com fome, as vezes com frio,
Morre com dor, a dor do mundo, as vezes no físico, no químico na alma ou no peito.
A dor do mundo as vezes vive e morre, sem nunca receber um agrado.
E eu não quero mais, depois de tantos comprimidos tomados,
ser esse ser desgraçado, que fecha o olho, que esconde a mão.
A dor do mundo hoje é um comprimido, que comprimiu o meu peito e depois soltou.
A dor do mundo foi um eletrochoque, que nunca mais me devolve ao meu estado inicial.
A dor do mundo hoje (em diante) me doeu.
Ouvi dizer que
" existem dois tipos de dores, as que te machucam, e as que te mudam"
E comigo a dor do mundo, fez os dois.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Conversa de A sem B, mas como se houvesse.


-Tem dias que quase sento e choro,
É de tanta urgência, você me entende?
...
- Se você for parar pra rever toda a história, tá lá, ela...
- Se for ver como um filme deles... Lá atrás do mocinho, do bandido, das aventuras dos meninos... Ela!
...
- Chega a dar uma tremida nos ossos, só de pensar...
- Cê já sentiu isso de tremer os ossos? ...
- Pois é!
...
- Parece até fantasma ("Deus me livre")...
- Tá lá, como se não fizesse sentido, nem sentisse...
...
- Se fosse quadrinho, seria um indivíduo mudo, personagem só traçado no fundo, pra simular multidão...
- Ah, isso me dá um aperto no coração...
- Não dá em você não?
...
- Acho que não existe nada pior que não permitir que se conte uma história, pra fingir que ela não existe.
- Essa coisa toda de anonimato forçado me deixa triste... Depois é tão difícil de reverter, se fazer ver, ter voz, parar de pedir licença pra passar pelo corredor do "ser" , imagine você... Nessa situação...
...
- Sei lá, depois também tá ali como se fosse só pra criar mais meninos pra se aventurar, como se também não gostasse de aventuras, e olha que nem levo a palavra no mundano, afinal eles dizem por ai, que viver é uma aventura...
- É bem isso, as vezes é tratada como o que não vive, passa pela vida, sobrevive.
...
- Depois tem que lidar ainda com aquela rapaziada, que fica parada nas escadas da vida, fazendo alvoroço quando ela passa, lembrando ainda nesse século como ela é objetificada.. Nessa parte eu fico bem enojada mesmo, sabe como?
- É pior que ver um coletivo de barata, isso que nunca vi, mas só de pensar também dá um embrulhada líquida, bem na "boca do estômago"... Sabe como?
- Bem isso um nojo.
...
- Dai eu tô vendo agora, muitas delas avançado, se enxergando, se unindo, sorrindo e sendo mais sérias, naquilo que lhes interessa...
- Vejo elas desistindo da competição pelo papel moldado, vejo elas saindo dos moldes, e você vem falar que eu não me exalte, que eu não demonstre excitação?
....
- Eu quero parar de tremer os ossos, de mendigar espaço, de silenciar meus anseios, de levar injustiça pra casa... Eu tô aqui conversando com você a horas, conversas sem conservadorismo, essas que você diz que adora... E será que em nenhum momento você repara, que nessa história, eu também sou ela?

fica..

O aroma do incenso de meu quarto,
misturado com o cheiro dos cigarros,
e dos livros empilhados
que por mais pano passado,
sempre levemente empoeirados...
Pedem pro cheiro da tua omoplata,
ficarem até de manhã.
E quando tu fica
até as paredes olfatam alegres,
guardam no fundo das narinas,
a alegria do cheiro de amado.
Pra que não fique embolorado,
o cheiro da falta
se tu vai.
Insistentemente as cortinas balançam,
Escuta, que o que o vento pede,
sempre é baixinho.
"-Fique, fique, fique..."
Sei que escutou,
pois, até quando parte,
tu fica.

Em nome da mãe.

Para alguns homens do nosso tempo, e para algumas mulheres tão atrasadas quanto:
Por respeito me trate como humana, se me pensar mulher te põe na cabeça um papel de submissa.
Por respeito me olha como humana, se me olhar, mulher, te ensinaram que atiça.
Por respeito me fale como humana, se tu pensas que mulher tem problema de audição.
Por respeito não me trate como carne, se não sou nenhum provento a sua alimentação.
Por respeito não me considere como qualquer forma matemática, não sou mais que você, e nunca fui menos.
Por respeito entenda que a rua não é uma passarela e eu não espero sua nota em cima das minhas curvas, ou da ausência delas.
Por respeito entenda que sinto calor, por isso uso menos roupa, não tem nada a ver em te dar calor, -se eu quiser isso-, acredite, existem outros meios.
Por respeito entenda que sua conta bancária de nada me interessa, tenho meu trabalho, minhas contas.
Seu carro, é seu carro e não te torna mais interessante se você possuir um.
Por respeito entenda, que quando uma mulher diz não, não quer dizer talvez, nem é pra te fazer graça.
E por último entenda que a violência nunca levou a nada.
Ninguém te ama pela sua força no pulso, talvez o seu amigo ache graça, e pra mim ele é tão opressor quanto você.

Água c/ açúcar

Vou saquear delicadamente seus pensamentos mais remotos,
aqueles líquidos, que tu diz não mais ter sede.
Não penses que sede tenho eu, de nostalgias,
tenho um lago onde nadam peixes, das minhas.
Eu finjo desinteresse, furtiva de "causos"
No íntimo quero o deleite de ouvir,
o que escorre dos seus lábios.
Que sede eu tenho deles, sempre,
como encontrar fonte no deserto.
Mas, bebo como quem tem calma.
dos seus lábios, da sua história.

O que a noite vai fazer de mim?

O que a noite vai fazer de mim?

Depois de um dia de não cumprimento de promessas.
Dois cigarros apagados.
Um culpado com a minha cara.

A noite se declara escura, eu acendo lâmparinas.
Me sussuro coisas petiscadas, diminutas.
Um grãozinho de coisa que caiu da boca.
Um farelo de palavras julgadoras.
Ora consoladoras.
Ora nem palavras.
Só um som,
quebrando a lamparina.

A noite abraça a rouquidão dos meus ouvidos
mute-mundo.
Me leva na névoa de outros sons,
me terceirizo em icógnita no interior de um sonho.

O que a noite vai fazer de mim?


Se generosa, um pássaro.

não vou fal(h)ar que te amo...

Não vou te falar que te amo
se quiser que tape de maré os teus ouvidos
ou de tilintar de pratos, de ranger de dentes.
Não vou falar que te amo, com tua cabeça em minhas fronhas recém trocadas
com meus dedos amortecidos te te consumar atos, não vou.
Não vou falar que te amo, com tua hora pra voltar,
com teu olho de fome, com tantas saias floridas, e tantas com nomes de flor.
Não vou falar que te amo,tenho plumas nas costas e pouco glamour,
mas gosto de céu, sei de infinitos, só não vi os coloridos palpáveis de tais.
E quero tocar as cores, as dores, o ponto g do mundo.
Não vou falar que te amo, ainda que anseie, que coma palavras e vomite frases feitas
ainda assim não sou o que esperas, nem sei que pensamento te acompanha,
sou a mudez de um grito que calmamente rindo se emoldura
Em um te gosto e tchau,
E se achar banal, ainda assim, não vou falar que te amo.
Gosto de saber quem sou, e essa frase é um feitiço,
pena que você não sabe disso.

liberdade-limite

Liberdade limitada em território.
Vá, mas não se passe, não ultrapasse, as linhas imaginárias.
Saiba tirar proveito dos limites da fala.
Não vulgarize, não empodere os pobres coitados,
a justiça é cega, mas enxerga o estereotipado.
Ai eu pergunto, quem nasceu para ser açoitado?
A liberdade de escolha ficou pra quem segura o açoite.
Meninas se guardem a noite,
pois á luz da lua não se dança.
Rédea pros cavalos, esticado ás crianças.
Eu não sei mais rimar essas infelicidades,
sei que elas não se retém á minha cidade.
A liberdade nos foi roubada,
e eu não sei onde fazer o B.O,
se eu abrir a boca pode ser K.O. !?
Vivemos uma nova ditadura mascarada, cê notou?
Polícia muito bem armada,
sociedade muito bem calada,
verde e amarelo é uma bandeira armada.
que segura o circo dessa palhaçada.
Olha só o que a gente tá vivendo.
O poder do jovem tá trancado no apartamento.
A união virou só açúcar,
reclama no twitter e acha que isso muda.
Quando foi que nos deixaram com medo?
pássaros mantidos em cativeiros.
Pois o meu canto teu conservadorismo não vai escutar.
Meu som agora é só pra quem quer somar.
E nessa divisão do mundo eu pergunto.
Quem são os outros? e quem tá junto?

Breu-claro.

Das noites insones, que quase nomeio apenas "noite",
de tão repetitiva, á normalidade...
Os psiques clarões insurgentes no breu do blecaute fechado,
que amanhece lampejo apenas, de tão diminuto dentro das horas
ou desmantelados em sonhos bizarros e pequenos espasmos.
Que clarões são esses quando inteiros?
Desmemoriada vagueio manhãs e tardes.
Cozinho almoços que poderiam ter sido banquetes,
de toda comida e de toda fome.
Esqueci também da face da contemplação plena,
que de tão esquecida em massa,
foi utopicamente nomeada de felicidade.
Se eu recordasse dos clarões, esquecia essa tua cara,
e matava a utopia, por egoísta e boa causa.

jardinagem.

I.
Se eu poetizar os teus pomares,
E abelhar os teus polens,
germinar qualquer coisinha
nos teus vastos descampados
não me corte os recitares que expandem ao sol.
Pois sem poesia plantada, pouco sou.
Ainda que que não floresça
(mas se florescer...)
Ainda que não frutífera
(Mas se der um fruto...)
Ainda que não adocem paladar algum.
Ai, pode ser que seja um fruto da imaginação.
Que brotou ali, onde você permitiu.
II.
Se me permite.

rede

I.
Com todo meu estardalhaço,
guardo o apreço e acaricio as pelagens dos meus silêncios.
Pois sei do que emano no barulho,
sei do que intercepto no breu das horas.
II.
Sou um infinito que ignora por prazer meus próprios fins.
As vezes confundo prazer com sobrevivência.
Um infinito com inércias nas espirais.
Eu sou uma espiral, ou um suspiro.
Depois de todo estardalhaço.
III.
O silêncio que te instiga,
nunca a intriga que pensas.

insanidade

E quem sabe por pirraça eu prove...
Prove que enlouquecer tá no presente.
Tá bem bonito, bem saudável.
Irremediavelmente,
nem a tua homeopatia,
nem outra minha mandinga vil,
nada faz a voz repetir a cantiga.
Essa nova canção é mais bonita,
é desconstrução
é um "perder-para-encontrar" a razão.
Vai entender?
Vai não, bonita, se não quiser, vai não.
Entender é artigo de luxo,
Entender é mercado negro depois das zero horas.
é portfólio proibido na biblioteca do papai.
Meu enlouquecer nos teus olhos,
é levantar a bandeira da igualdade.
Atentado direto á toda sobriedade do mundano,
do que já foi o mundo.
Anota ai, que eu prefiro o atestado de insanidade,
Se a indiferença clara, proposta e posta,
é a verdadeira sobriedade.
Eu prefiro insanidade, anota ai.
In-sa-ni-da-de.

Chá

Nunca quis uma ideia como comprimido amargo,
gripou, te empurram goela abaixo.
Quero uma ideia plantada e regada,
quero uma ideia chá.
Uma que talvez foi podada várias vezes, e retirada as pragas.
Que se molhou de orvalho, que se secou ao sol.
Que viu as fases da lua que meus olhos dormiram.
Não quero as ideias encapsuladas, genéricas, superfaturadas.
Quero a ideia simples que ferve no fogo baixo.
Que antes de tomá-la, aromatiza a casa.
Não quero uma ideia drogada, redonda, achatada, com falso gosto de limonada,
que foi recomendada por um senhor que nem olhou na minha cara.
Eu quero a ideia que pegou,
a mesma tempestade que eu.

Gameta

Toda incógnita que me disponho,
ou se eleva em conhecimento,
ou se reproduz em si mesma,
Ter dúvidas sempre me rendeu boas conversas,
ou silêncios maçantes.
Vezes também,
comigo mesma.
Se o seu universo for muito distante,
Pode me enxergar como um gameta,
mas nunca a cor das minhas cobertas.

Eu que já..

Eu que já sentei e ri, de tudo e de todos, no mesmo banco que fui piada.
Eu que já apelidei as fraquezas, e chaveei as minhas na segunda gaveta.
Eu que já sentei na sala de jantar da realeza, e não sabia usar os talheres.
Eu que já usei a grife, a moda, o drink, a anedota, mas eram todas emprestadas.
Eu que já ouvi as blasfêmias burguesas de indiferença, e tive que guardar a minha importância por gentileza (?)
Eu que já conheci o luxo e a avareza, e fingi gostar por fineza.
Eu que já provei a sopa.
Eu que sei, o que já vomitei.

I.II.III

I.
Quando teu olhar transparece de ti um desejo lancinante, eu viro altruísta.
Doo tudo que tenho, doo o que só a mim pertence.
Eu.
Depois eu pego de volta.
II.
E teu olhar retornarás, nos mesmos tons que eu já conheço.
Que eu por vezes esqueço.
Por puro mártir satisfatório,
de venerar re-surpresas.
III.
Cozinho a ideia que sou,
a fome que tens.
Entre outras coisas que sou.
Entre outras fomes que tens.
Por trás de um grande homem, existe uma grande mulher?
Ah querido, eu não aceito esse bordão.
Faz tempo que sei a minha posição.
E se não enxerga meu ombro do seu lado.
Aprecie as minhas costas.
Desde que partiu levando as malas, e a estação do verão com você...
A paz filosofa no trono, ela vem reinando sobre minhas águas;agora calmas, límpidas, e claras, e muito clara eu tenho sido..
Desde que teu olho parado quis o movimento...
Que o meu dança,samba, salsa nas gafieiras da vida.
Desde que regressou pro sua monossilábica alquimia dos dias, que meu plural vira ouro, e reluz, porque assim tem que ser.
Desde que comecei a encontrar vestígios de mim pelos cantos, que fui deixando vestígios de ti pelas dobras...
Colando outros sorrisos nos porta-retratos que guardavam seu semblante carregado,
aquele que eu gostava antes de carregar o meu,
e eu toda, meu ser em fusão com teu humor, a falta de humor partiu...
Desde que você partiu, levando as malas, e a estação de verão com você...

Tinta

Tuas cores,
costuradas todas em um vestido de remendos
que me cabe até os joelhos,
como uma luva, eles diriam.

E eu que adentro tudo,
penso em mãos.
Penso também em tatos, em indicadores.
Pouco penso em direção,
Pega o pincel ,
que pinte o que pintar.

E tuas cores todas,
misturadas em uma maquiagem,
que me salpicam a face,
para algumas noites de festa.
Rubores, e maçãs de rosto.
Natureza viva, movimento.

Que festa! As tuas cores todas,
anunciando a primavera que já chega.
Chega mais, aquarela
Que não mais me deixa ébria,
esses goles de tons pastéis.

Tuas cores e minha sede
Meus goles de insanidade.

Tu se fez líquida...
Eu enlouqueci, e bebi tinta.

Barro

Eu sou a parte grande do meu ser,
aquela que não desceu pela peneira.
Eu sou o que até agora não se redimiu de ser,
e me habita orgulhoso.
Eu sou a mão que brinca com minha própria ampulheta,
e o pensamento que sobreviveu a madrugada.
Eu sou a sede desesperada do que bebi noite passada.
o anseio de alívio pros meus excessos.
Eu sou os vinte e quatro arcanos espalhados pela mesa.
E você é a mão que na sorte recolhe meu fragmento.
Eu sou aquele imenso que passeou na sua imensidão,
e te encontrou num esbarro.
Eu sou uma mulher, não sou costela de ninguém,
Eu sou o barro.

Aquele amor.


Aquele que um dia pensou ver uma sarjeta,
onde eu agachada plantava mudas de flores.
Que desenhou bem mais dolorida todas as minhas dores.
E eu jardineira com olhar sensível pra cores,
fui chorar no seu ombro a minha antes-cegueira.
Que besteira.
Eu confundi sua arte, de catador de confetes, com pintor de maravilhas.
Eu, enlaçada pela cintura, calçada de seus sapatos,
dancei quase incansavelmente em seu salão, seu ritmo num antes composto, depois intitulado com " para você".
Que clichê.
Não o culpo, nem me visto de vitimismo.
Tá todo mundo a mercê, de nos inúmeros brechos de sentimentos sem provador,
vestir a roupa velha de um amor, que não lhe serve.