quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

O amigo e o plural.


O jeito que me olha quando Aquele chega.
Aquele, que fez teu coração exigir sua atenção,
como um louco desvairado ao centro da praça,
da sua camisa roxa de botões aveludados.
O jeito que me olha...
Me faz te perdoar por ter que ouvir amanhã no café puro,
teus recorrentes lamentos ao permitir que Esse...(já ferida carimbada e cicatrizada nas tuas clavículas)
Te ferisse por mais uma noitada.
O jeito que ri de marejar sem pranto
que criam felizes poças cristalinas,
por onde pulas as meninas dos teus olhos...
Que as transmutam o vestido de cor,
de escura madrugada,
à lapso de azul turquesa entardecer.
O jeito que ri...
Me faz lobotomizar de todos os foscos,
toscos, tolos, e insossos momentos, que a vida vira em lama
e não pulam por nada as meninas minhas.
O jeito como parte e fica,
como se fosse intransponível Ser.
Me fez amanhecer.
_
Nessa vida também.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Eu pensei em escrever corretamente os meus defeitos
pra que na sua leitura de bom senso
me lesse com aquele brilho nos olhos
com que lê as poesias "deles".

Eu pensei no corpo do texto
como o homem que desenha a mulher
escondido embaixo das cobertas...
Mas eu não soube ser tão tola,
meus defeitos tem corpo, não projeções.

Eu pensei que meus defeitos eram aventureiros e davam a volta ao mundo,
percebi que superestimei suas fadigas quando os vi em bando
sofrendo ao dar a quadra.

Eu os encontro pelas esquinas e solto bom dia, mas não lembro das suas feições.
Devem ser suicidas.
Ou eu assassina.
Pois em outros textos desvairados,
assassino eles com cuidado.
Sem que morram.

Mas que confuso.
Descobri de todo errado, que esses pobres coitados,
fizeram do meu ser, ocupação.

Mas no meio de uma nova escrita, que eu nem sei será lida,
descobri uma comunidade, que vive no interior.
Defeitos e certos acertos, moram cá dentro do peito e fazem festa no verão.

Ai te escrevi esse texto, sem corpo mas meio arfante,
pra dizer na pressa de um errante,
que não espere a perfeição.
Essa poesia, querida pessoa bonita...
Não é pra te deixar aflita.
E pra contar no meio de um riso,
que agora sei o que me habita.
Alguma coisa acontece no mundo
alguma coisa plural, borbulhante, viscosa.
Alguma coisa que arranha, que assopra
que finge-que-passa.
Tô...
Tapando os olhos, maltratando as entranhas,
tratando com remédios pra azia,
coisas que os noticiários não noticiaram.
Coisas abafadas que fazem sauna podre
para as meninas dos olhos.
" E se você fecha o olho a menina ainda dança".
Tenho dançado.
Alguma coisa acontece com o mundo.
Ando tão fora dele, que só sei por correspondência.
Não respondo, porque alguma coisa acontece comigo.
alguma coisa plural (...)

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Andava à esmo, na praça onde nos apaziguávamos,
e lá estava a memória alva,
me puxava pelo faro.
Quis saber de você...
Cheirei tão profundamente aquelas jasmins,
que doeram meus pulmões tratados à cigarros.
Lembrei do teu olhar ao vê-las aquela vez, e me ardeu um arranhado antigo, das tuas unhas roídas.
Como podem aqueles dias transformarem-se nesses?
Eu perguntaria às florzinhas mudas.
Se elas me respondessem...
Quem sabe...
Quem sabe?
_
Se a gente soubesse.

A negativa

Tu apareceu no meu tarot.
Nas previsões astrológicas que acompanho com a descrença de quem já provou o engano.
Tu apareceu na nuvem de rabo de galo no céu,
anunciada de mãos dadas com a chuva de verão.
Tua cara se meteu no meu desenho de paisagem.
Em todas minhas escritas de domingos.
Profetas loucos no centro da cidade, antecipam aos desavisados o fim do mundo, e você.
Os dois vem, eles falam babando.
Eu chacoalho a cabeça, rio pra baixo com pressa, finjo.
Não acredito, mas começo a tentar abrir um espaço que te caiba em meio as minhas coisas de vida empilhadas.
Não cabe, choro, nunca vai caber, nunca te coube, nunca.
Desespero só porque não quero, não te quero tá me ouvindo?
Insisto que não passe dessa porta.
Chaveio tudo, espio pela janela.
Já fazem duas semanas, que espero que não venhas.