sábado, 28 de janeiro de 2017

Bff imaginário.

Olha como estou destraida Zé.
Terceiro café que esfria sozinho, sem que eu me dê conta.
Não ando dando conta, nem de café Zé, percebe?
Parece até que volito sobre todos esses últimos dias
desde....Desde que Zé?
Tu lembra?
Onde desencadeou todo esse estado de perdição?
Se ainda fosse aquelas perdições que te acordam de ressaca
rasgos em roupa
e boca doendo de risada, como valeria não?
Não vale nada, passar assim, sem tesão
mas morrendo, morrendo dele, entre os dedos.
Me sacio porque não mastigo nada dessas horas que me apeteça o paladar
Só minha própria língua quando meu imaginário joga na cara
aquelas coisas que eu devia ter falado naqueles diálogos machucados.
Eu tenho certeza que ainda encontrarei alguém à quem remeter meus últimos escritos
Um Leonard pra toda minha Virginia.
Parece bonito essa coisa de não aguentar e contar pra alguém,
"nem que seja a última coisa que eu faça".
Vejo piadas onde não tem Zé.
Onde tem me parece obvio.
Tudo parece obvio.
Me chamo obvia, e é ai que te chamo Zé.



sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

À todas que me mostraram o caminho

Um dia, haverá uma rua que levará à única praia propícia para banho...
A rua levará também teu nome.
Eu pisarei com respeito toda sua história.
Pedindo licença para mergulhar na inspiração.
Tu que sempre devolveu as conchas à costa do mar.
Tu que nunca romantizou as ondas.
Tu que arranhou a areia.
Tu que salgou tantas bocas.
Um dia haverei de ir lá.
Onde o anonimato não te apontou, mulher,
com riso tolo de quem não entende, que é?
Um dia contarei marejada, tua história para todas as sereias

pixada

No fundo o fundo não importa
Minha carcaça que pensas talhada bonito,
ainda é o que te faz desenhar corações pela cidade.
Cada dia que me preencho o fundo
e talho, com lâminas afiadas de vida, a carcaça.
Mais partidos nos desenhos antigos tu traça.

Ainda tem 123, só na Av. Central

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Eu sou de verdade, me toca...
Lembra daquele meu penúltimo erro, daquela última vez que fui grosseira de graça?
Lembra do meu arrependimento no dia seguinte?
Falando um pouco pra ti um pouco pra parede, como seria bonito o nunca mais?
Lembra quando eu fiz de novo?
Eu sou bem real, me olha...
Ainda lembro daquele dia que choramos e soltamos uns grunidos abafados do tanto que ríamos, e ainda que eu não lembre do que era, lembro de todos os seus dentes alinhados, e da sensação de ser feliz.
Lembra aquelas vezes todas que fomos?
Eu sou isso mesmo, me ouve...
Lembra de ontem ainda ou antes, quando tu ainda me ouvia, quando eu ainda te falava, quando no toque a gente ainda se encontrava no montante de todas as outras coisas que nos perdíamos?
Lembra da reciprocidade?
Lembra ainda, de mim?
Eu que lembro até dos rachados da sua boca.

(rabisco encontrado)
Eu sou clichê sim
com meu café preto na xícara lascada
meu cigarro, e tantas xepas no cinzeiro que nem é.
A solidão é, e me faz não escrever de amor.
O amor não é.
Não isso, não isso.
Escrevo só pelo que tem, ou pelo que falta.
Vou escrever sobre café e mar.
__
Até quando?

Quitandeira

Veio aqui procurando consolo pros lamentos todos,
pras dores não curadas,
cura pra fraturas de palavras expostas,
métricas possíveis pro tamanho que insiste em não lhe caber,
salvaguarda pros amores brutos, amores calmos,
e todos os meio-termos que também não "funcionaram".
Procurava às vezes por versos cândidos, pomada, assopro, ou afago.
Outras chegava barganhando de um pouco do fácil, o tátil, o afável, a resposta certeira, ou o teatro.
Queria tudo em quantidade que matassem a fome metafórica que a possuía.
Me pensava quitanda dessas coisas todas.
E eu só dividindo o que tinha em minha despensa.
Eu, que também tinha fome.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Rasga-me como um pé de alface pra salada.
Retrata-se à mim, como se pedisse desculpa a uma criança
em que bateu sem querer com os joelhos no corre-corre do dia-dia.
Fala-me com um choramingar como se tivesse pisado o rabo do cãozinho.
Trata-me com a complacência pelo que mede menos,
em tantas métricas possíveis.
Uma cara de umbigo saltado que te engolfa.
Take care, que eu cresço e te engulo.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Tem dias que já acordam escovados, rindo dentes limpos,
que se alimentam só do saudável da despensa.
Nos beijam as dobras dos joelhos e vão subindo...
Nos dizem bom dia sem voz alheia.
Tem dias que me sinto completa.
Abro as cortinas pro sol beijar
o outro sol que me habita as entranhas.
Tem dias que até me estranha...
A falta da falta

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Minha poesia, e meu corpo,
duas linhas tênues,
onde escrevo minhas regras.
Onde tua mão boba, se bobear,
leva na face a minha certeira.
Nunca fui boba,
nem ruim de mira.
Acerto o alvo, se houver...
Mesmo nas palavras que erro os acentos.
Minha poesia e meu corpo,
dois amantes violentos
que se protegem.
_
Todo café que me convida é em três, e arriscado
Eles que não possuem lareira nem casa, e vendem pó de flu artesanal.
Eles que quebram os trenós de gringotes por revolta, falta de educação, ou fácil água de riso.
Eles que traficam ovos de rabo córneo húngaro pela travessa do tranco, estômago torcendo.
Eles que barganham galeões pelo beco diagonal, e plataforma 9 3/4.
Eles que ganham suéteres usados pela família Wesley.
Eles que não aparecem na história.
A história se repete e pulsa, no mundo trouxa.
O dia que meu respeito caiu de cara no chão, pra justificar paixão.
O dia que calei minha voz aguda, pra deixar falar "um ele" no vozeirão.
O dia que fui só fenda, só fluido, só simpatia, só recepção, pra agradar falácea, falo, chefe, bossal, e firula.
O dia que fui menos mulher que sou, pra ser a mulher esperada.
Esse dia nunca amanheceu.
O sol sabe o que abrilhanta, e me rege.

Gata vira-latas e Coruja pomposa

Tu arrulha,
eu ronrono
Conversa de telhado.
Tu dança no céu,
gira a cabeça.
Eu danço equilibrada nos muros,
faço yoga.
Te caço d´outra forma.
Tu me espia de um olhar
que eu não desconfio.
Flertamos o impossível,
porque o desconhecemos.
Só nos sabemos vivas,
e que é lua cheia.
A única vez que tive mecenas
a arte que ela de mim gostava,
estava tatuada na minha coxa.
Chandon, e banheira,
como é gostosa a besteira.
E passa aqui.
Sou de Kaiser gelada no verão.
Campo Largo no inverno.
Me banco.
Me sou.
Me despeço, sem lenço.
Digo que foi bom o momento.
Não sei viver dessa vida,
que me compara á bebida
Os olhos de água
Que tu nadava, e agora nadam,
aqueles mesmos nadas.
Com toda fundura,
de não dar pé.
Fui um pé d´água ontem,
mas só hoje cataclismo-me.
Depois vem a seca,
(eu sei)
e é ai que mora o perigo.
_
As marcas que ficam.
depois do dilúvio.
Hoje eu queria ser um pássaro
Um peixe
Uma joaninha ou qualquer inanimado.
Hoje eu até queria ser aquela terrina de barro
Mas eu, eu mesma não.
Amanhã quem que sabe?
Mas diz que devemos viver o hoje.
Que comédia.
Que indecente essa sua proposta
Me dizendo pra aguardar
que terá aguardente
um guarda de costas
e nós duas aguadas
expostas ao sol pra secar.

Que indecente que me peça
pra esperar, e não ter pressa,
que me pensar intensifica a proposta.

Que tolice o meu repetitivo sim.
que te digo, mais uma vez.
Desenho moças na vidraça
com o bafo da minha boca.
Escuto Ângela Rô Rô, com uma dor gostosa
que nem sei se é minha.
Flerto com o espelho, como faria...
Que aguardar arrastado,
meio bolero, meio vinho azedo,
meio solitário.
Aprendi com as flores a esperar,
como uma aluna desatenta.
Venha enquanto é dia, e eu doce.
Quando anoitece,
aquela outra me invade.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Estão mancomunados, o cérebro argiloso moldado, ao falo dos seus senhores adorados.
Vez-em-quando se ajoelha por pura tietagem academicista
(que não te comparem á esses pederastas, que tens receio de apertar a mão e perder o culhão).
A tua poética espalmada, cega de um olho, tateante.
Desprovida de entendimento por puro " brilhantismo-contemporâneo",
que tamborila o brutamonte-gourmet e o intelectual-podre.

Batam pernass senhoras, pois os senhores
planejam, com fumaças de charutos fortes, a disseminação do afronte.
(Sejam coniventes, eles precisam disso, do contrário o peito murcha).
Tosse, perdeu a pose.
Começa de novo, e não para o frenesi.
Tosse, perdeu a tese do tcc da sua quantagésima graduação.
Essa ganharia um nobel-sei-lá-do-que, que sempre ganham os homens.

"Mulher, a histeria desse século tal"

Perdeu o fio da meada, e novamente vomitou pelos dedos.

(Depois cê limpa ali, secretária ;)

-Conheço tantos com a tua cara-

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Me desejava um boa noite seco
tipo farinha sem feijão.
Direcionava conversas cifradas, e diminutas
como quem já tá dormindo e não sabe.
Logo de manhã, me cobrava entrelinhas não lidas,
como se eu fosse então, a analfabeta de jargão.
Já engoli tanto.
Ora-essa.
Não sei e não vou lidar com estrelinhas de céu de ontem.
Tenho constelação no peito, brotam todos os dias, sulferinas.
Prefiro o brilho fast, que esse teu, fosco-blasé-na-moda,
não te reflito, te refugo.
Porque sou dessas.

ciranda

A senhora cíclica
me habita o ventre.
Diz á minha velha alma
entre-dentes-rindo e sussurros-semi-secretos
que eu aproveite o útero renovado, e crie.
Sei que não fala de rebentos,
me conhece.
Ela também lê poesia
de moça inamorável.
A senhora cíclica hoje
tá cheia.
Me fala das marés...
Diz que vai aprontar, por lá,
já avisou Iemanjá pra estourar pipoca.
Recomenda q´eu apronte por aqui.
Como se precisasse recomendar coisa alguma
á uma aluada.
É noite de ciranda.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

ontem, ainda

Ontem ainda, quis te encontrar na fila do banheiro de um bar qualquer,
reviver uma daquelas cenas repetidas, provocadas, multifacetadas...
Ontem, ainda, queria uma cena com a tua cara.
Deitei e brinquei tua memória, desconfio que superestimei
teus rodeios e/de dedos, trejeitos, fiz uma alusão ao teu cheiro,
fiz graça com a minha recordação falha pra geografia, mesmo repetindo tantas vezes teu mapa.
Tanto fiz que ontem ainda te engoli até não me caber.
Hoje já nem quero, de te ouvir falar, sinto pruridos.
Alergia de reversos.
Mas ontem ainda...

meu samba

Todo esse teu rock´and´roll
se desmancha no meu samba.
Eu sei.
Engraçado ver teu quadril resistindo
a minha saia arriada, meu pé descalço,
louca pelo encalço da minha malemolência,
e a leveza que tu ainda não tinha visto.
Sou de pluma, onde tu é de paetê.

vou fazer cena

E eu viajaria no dia seguinte bem cedo,
uma dorzinha enrolada na toalha estocada dentro da mala, pesando mais a indecisão da lua em libra,
que nunca sabe o que vestir em certas noites.
E de manhã bem cedo eu sentaria a espera do ônibus, pensando que viraria, novamente,
dois copos e um ano com o peito ventilado de tão vazio.
E de manhã bem cedo tu apareceria de pijamas, cabelos desgrenhados á minha procura por entre carrinhos,
crianças e abraços.
E quando me encontrasse, desaceleraria o passo, ficaria meio mole, rindo besta, olho brilhando.
E me apertaria forte, tão forte, que eu te engolfaria pro meu antes-vazio, que já te esperava.
A mala alivia na mão, começa aquela música, a dor foge pelos arbustos laterais da estação.
E eu sorriria por todo o caminho de ida e por todo o retorno.
- Terá amor! Eu gritaria pelas estradas.
- Terá amor!
_
Eu devia ter feito cinema,
de tão clichê.

Jaraguá 16/17

Não tem essa paz utópica dos bem nascidos.
Tem uma de bem vivido,
bem vindo, bem lindo.
O riso aberto, a falta de pose, o excesso de calor, os mosquitos todos.
Tem mordidas, melancias, maçãs, meninas, e os melhores homens de saias que já conheci.
Logo mais tem piscina, mas, paz utópica dos bem nascidos, não tem.
Nem sei como é.
_Tem vezes que silencio,
por dentro fico fazendo festinha.
Tem um ano novo no meio.

Cara mia

Hoje tua bagunça não me faz tropeçar nas peças,
ou ser eu, a peça, desse teu tabuleiro desmemoriado.
Hoje eu nem movo de quadrado,
"peça tocada é peça jogada", diz tua regra.
nesse jogo prefiro me tocar sozinha.
Deixo que se matem reis e cavaleiros ao meu redor.
Faço poses, uso coroa e sou rainha.
O tabuleiro se estica hoje é na minha casa,
e o jogo é outro, um mais com a minha cara,
cara mia*.
Ódio, aqui não é mato.
Mato é vida, pega sol e chuva, brinca no vento,
se alimenta dos mesmos nutrientes que as orquídeas.
Ódio é o falho-fácil, brota fedendo, no meio das faláceas, das entranhas do que se estranha,
dentre a ignorância dos que tem acesso e por opção ignoram.
Pra ter ódio basta uma televisão já ligada na tomada, proferindo alienação em um bom som,
um padrão, um olho tapado e outro com visão retilínea, basta ver o arpoador e evitar as favelas.
Pra ter ódio bastam ter ouvidos bons á toda mal criação, á piada recorrente,
da loira, do veado, do preto, do português do ambulante, basta medir a sociedade pelo que se come,
pelo que se veste, pelo que se compra.
Pra ter ódio, bastam as frases feitas, bastam doses cavalares de violência, e evitar o diálogo,
os que odeiam não escutam.
Ódio brota por todos os lados,
mas não é mato. Mato é vida!
O ódio já nasce morto.