domingo, 30 de abril de 2017

Pacífico, o oceano.
E nós mesmos, líquidos, no globo.
De glóbulos rojos y blancos,
água fraca e mal vitaminada.
Suor corredeira de solvente pra sujeira dessa gente.
Retirados como se não nos fosse nada, nada.
Fosse só mais um pertence e também não nos pertencesse.
Assim nos querem bem,
dizendo tudo bem, em tantas línguas.
Nosso rosto que nos difere é indiferente,
Devemos ser só nariz rente a calçada, e pouco a pouco achar que ali onde enxergamos é nossa casa.
E a deles já completando sete, uma linda no campo.
Nos querem dançando enfeitados em volta da fogueira que antecede pele em brasa.
Oh, minha nossa!
A minha, a nossa.
Incitam nossa dispersão para virarmos atração em vários pontos.
Nos querem digladiando entre nós mesmo, metáforas e decência, usando estilingue nas nossas vidraças, e protegendo veementemente a deles.
Nos querem pacíficos, desejando uns aos outros, a paz tirana e o conforto deles.
Nós querem pacíficos como uma senhora já com setenta e poucos, batendo ponto as sete da manhã.
Nós querem pacíficos, porque nos sabem oceano,
não saberiam amaciar um imenso revolto.
Pacíficos sempre, mantendo a paz deles.
Tão cinza esse dia.
Que dá vontade de escrever sobre você.
Só pelo contraste.
_
Te anuncio a ação e tu pede:
"me faz então, um poema de amor" (...)
_
Do amor não sei uma vírgula.
Mas já acentuei como podia.
_
Meu bem, a poesia, pode estar em minhas narinas frias,
ansiando noite e dia, tua clavícula?
_
Do amor, só sei o cheiro e o arrepio.
Sou dele reagente.
Tenho em mim um mini jardim...
Onde planto forças da estação.
As pequenas nunca colho antes do tempo.
Hoje colhi.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Sou uma terrina de barro
que já se perdeu da tampa há anos.
Sou uma dessas com fundo furado
de raspar colheres
que esvaziaram-me já,
lotados de fome,
quantas vezes?
Sou uma terrina furada
na cozinha da esperança
sem utilidade pra caldos e sopas.
Foi numa segunda feira
que me colocaram no armário central
como enfeite.
Podiam me encher com balas.

Teu desejo é um cavalo surdo,
conduzido a cabresto.
Quem guia reto é teu ego, moço.
Tivemos que gritar quantas vezes pra entender?
Quando não fomos nem estivemos,
dispostas em seu trecho?
Quem guia é você, vestido de galã,
com forjada fama de Don Juan,
de roupas e cuecas limpas, que mamãe lavou.
Não sou nem estou disposta ao seu trecho.
Vou gritar se preciso for.
Ou me junto à elas, faremos canções,
Vamos entoar
até que seu cavalo surdo,
volte a ouvir.
Vai comer muito capim,
até entender o começo do refrão.
_
não...♫
Não sei em que verso de qual poema medíocre,
enfeitado de ego osso de poeta exposto,
deixei teu sorriso padecer de normalidade,
momentos especiais se desmantelarem em casualidade.
Pois permitimos que amornasse todo fogo brando,
e retiramos por despeito aquele apito de fervura
que anunciava e antecedia nossos cafés coloniais,
de mesa cheia de nozes, bolos salgados e nós.
Não sei que desenho te contornei,
sem jogar tinta alguma depois,
e tu ficou em preto e branco rabiscada,
misturada nos desenhos que eu já nem gostava tanto,
guardada naquele armário revirado,
que uma vez era nosso, e hoje é tão meu
que parece espelho e não armário,
mas quase nem reflete nada.
Não sei em quem pensar na madrugada...
Mas não posso que seja em você,
assim, só por falta de sono...
É de um tremendo desrespeito com a história que bordamos,
espetando tanto os dedos, nas agulhas finas do tempo.
Não sei como nasce um poema, nem um amor com destinatário.
Não sei se rasga placenta, terra, ou casca de ovo.
Sei que emudece, muda e morre, sem alimento.
Contei-lhe todos os ossos na despedida.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Faltou título, mas teve ponto final

Faltou um pouco de dedos na sua insistente ranhura,
que minha pele friccionada, masoquista, não pedia.
Mas tantas noites frias, desse desejo-carícia, que tu não se cobria,
e ambas passávamos frio nos pés silenciosos.
Noites insones, gargantas secas de palavras úmidas não pronunciadas, por um pacto de ser resistente ao que mela e unta, e ridiculariza o amor.
Faltou um pouco de ridículo nos nossos dentes bem desenhados na pele próxima as nossas partes íntimas.
E risos retidos a meio dente, depois da meia noite e muitas doses.
Faltou desenhar nosso íntimo na fumaça dos nossos cigarros calados, esses que queimavam o tempo de um pós zeloso ideal de inverno infernal.
Sobrou na sala um pouco do conhaque, violência, gozo e mudez.
Faltou falar que faz falta cafuné depois, nessa bagunça de cabelos.
Faltou que eu fosse pra ti, mais que a pele embaixo das suas unhas, faltou que tu fosse pra mim,mais que as unhas.
Faltou que fossemos de encontro.
Não fomos.
_
A falta é simples na pele,
só quando não faz mais falta