segunda-feira, 27 de junho de 2016

Mas as cavernas não morrem

Morre tu, mulher.
Tuas curvas morrem, morre teu ventre,
Morrem os seios que alguns homens morreram de amores,
que tu escondeu porque o desejo usava adjetivar-se de amor.
Morre tua vagina, que por tê-la tantas vezes, quiseram te ditar alguns afazeres, que por tê-la tantas e tantas vezes pensaram que sabiam de ti.
Morre teus pés, e morre também quem tu deu a mão.
Morre quem te ofendeu, mulher, por ser o que és.
Morre contigo o perdão.
Morre tua boca, e morre ainda na garganta a voz, mas não morre a canção.
Morre os cabelos mais lentamente que a carne.
Nunca morre o pensamento.

Morro eu, um dia que nem quero ver.
Não morre minha palavra,
ainda que morra seu ouvido.

A liberdade ecoa,
ainda que morram as cavernas.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Nepeta cataria

Um gato te precede,
subjulgado igualmente,
pra que tu não assustes ao chegar.

Outro gato nas entranhas,
sei pelo ronronar que finda teu riso.
Pelas palavras de ranhuras, em certa luas.

Tens o familiar na alma,
uns pêlos, pelos tacos da casa.

Não te julgo, não te jogo,
já sei que cai em pé.

Te reconheço mas arrepio á sua cantoria,
Te reconheço porque somos da mesma gataria.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

nem-cruz-nem-credo-nem-ave-maria.

Acordei no meio da noite e não chamei teu nome.
Sofri e não questionei seu abandono.
Amei em momentos que não eras o verbo.
Caí e não questionei a ausência de amparo.
Conquistei ingrata alguns almejares.
Pois vive em mim teu pseudônimo.
Saí do umbigo, e vi outros parasitas do mundo.
Parece filme de fantasia triste.
A fome de boca cheia te chamando.
Tu mudo, no topo de tudo.
Não posso que digam depois do espirro, que tu me crie.
Cria um amigo igualmente onipotente pra sua carência.
Pois não te chamo ...
Mas dizem que você está em tudo.
Cadê você quando doí fundo, alguma dor incessante dos tais filhos no mundo?
( cadê a benção indiscriminada?)
Tu és o amor, a verdade e a vida.
E tudo isso está em falta.
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Não sei lidar com a crise que vivemos,
Fechou em cinco reais a moeda do Jardim do Éden.
Tá difícil importar amor divino.

ouvido do Zé.

-Você sentiu esse ar, ar de coisa vindo?

- Um ventinho que quer dizer alguma coisa, levantando a pelagem dos gatos...

- Você viu a agitação dos pássaros hoje?

-Tudo em bandinho, uma dancinha entrecortando o céu.

- Você viu como o céu tá bonito, mas tem aquele ar de coisa vindo?

-Sei não o que é Zé, mas sei que quando anuncia, vem...

- Vou passar um café

Cheiro da cena.

Uma música antiga pra embalar esse novo momento.
Que é pra acalentar a ansiosidade de querer o tempo.
Que é pra esfumaçar o ego enraizado, como quem ferve gengibre pra melhorar a garganta.
Um pouco de carícia pra afugentar a solidão, essa que a carne apossou dos sentimentos de madrugada
Que é pra que as dúvidas sejam outras.
Como quem filosofa incansavelmente.
Um pouco de blues no nosso ritual á lua.
A senhora cíclica de nosso ventre.
A senhora mística dos poetas.
Um pouco de vinho, pra que o riso não se intimide.
Um pouco de calma artesanal,
que essas pré fabricada não cabem na minha casa,
não combinam com a decoração...
Uma noite tão mística quanto real.
Como uma mulher que se recuperou do papel,
como tantas, ainda bem,
como você e eu.

Chuva de meteoros.21/04/2016

Eu quero subir a montanha com você.
E quando bem no alto, ver as luzes artificiais da cidade.
Nós seremos o próprio clarão.
Eles pensarão em meteoros.
Nós seremos.

Sem-SAC

Não existe SAC algum, 0800,
que te salve do agora.
Se já jogou a palavra pro universo,
não espere nada menos que a magia.
Vem da cor do pedido,
nem sempre do tamanho ou em tempo exato.
Universo é de humanas,
ainda que a humanidade não o baste.
A moeda é sempre a mesma,
energia.
Tem gente rica que nem sabe.
E de gente assim, eu tenho interesse.
Um genuíno, sem espiar extrato.
A energia é um armazém de tintas.
Tá todo envolto.
Ou tá em falta.

(A crise maior é a espiritual.)

Linha tênue entre o traje-e-o-ultraje

A burguesia dessa Era...
Era mesmo de se esperar...
Quer abraçar um passo na pressa...
Não um modo de andar.
A burguesia dessa Era...
É coisa toda por trás...
"-Também sei dessa arte simples...
Mas quero foto nos jornais..."
A burguesia dessa Era...
Gosta só do que é bom...
Como falar de Nutella...
Se ainda mendigam o pão?
A burguesia dessa Era...
É toda paz e amor.
Vive onde os conceitos de ambos..
São incolor.
A burguesia dessa Era...
Paga pra evolução...
50 pila o chá...
150 meditação.
A burguesia dessa Era...
São como os das Eras passadas.
Vive ali na beirinha...
Não mergulha em nada.

Umbigo.

Quando teus olhos umedecem, sem sorriso de contraste,
eu sinto como se fosse dividida, em outras tantas partes.
Parece que uma parte minha, que ri da vida,
faz as malas e parte,
bem no meio do inverno.
Quando você chora, minha agonia dilata,
sinto como se as mãos estivessem atadas,
e a criação de um novo ideal
fosse máquina enferrujada.
Eu fico tão egoistamente mal,
por não ser aquele leão que vai reconquistar sua floresta.
Eu fico tão imensamente mal,
por você ter que passar pelo que não presta...
Que a utopia da paz, do paraíso, brinca de viver em mim, pra que te receba um dia...
Bem tarde, bem tarde.

Resiste!

E os telhados de vidros, em meio a tanto risco
Que uns chamariam de coragem, outros sabem da necessidade...
Foram todos estilhaçados.

Já sabemos quem atira a pedra.
Já nos cobrimos de algo mais resistente.
Mas não controlamos a chuva.

" Quem tá na chuva, é pra se molhar."

Aqui, estar, não é opcional.
Mas eu estou.

( Resistimos...)

Rolê das Minas.

E rimos gostoso, de lacrimejar e ter uns espasmos,
de fazer barulhos estranhos,
e abrir a boca como temos vergonha,
de quase nos mostrarmos por dentro,
de bater compulsoriamente a mão no encosto do que nos encostávamos,
de acordar os cachorros,
os que dormiam, e os bebês.

Como se não tivesse cessar,
assustasse quem fosse passar,
como se quisesse mascarar,
enfeitiçar, atiçar, os pobres meninos.

Rimos tanto da alegria,
que eles pensaram em bruxaria.

Querido que besteira,
a parte que ri sem eira-nem-beira,
não queima na fogueira.