segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Mesmo ferida, não vou te pedir impossíveis.


Sei que me quer riso, e muito sol,
sei que te agrada quando assim sou.
Mas acontece que esse mundo e o outro,
tem me posto no fogo,
só porque já me viu queimar.

E ai eu vou cavernando tudo isso,
eu tenho propensão á buracos,
E quando tudo depois passa,
tu chega com picaretas,
mas eu já nem tenho unhas.

No fim sempre cristaliza,
viram tesouros, essas vivências.
E sempre desenham mais nitidamente
semi-companhias.

Mas obrigada,
por tentar me entender
pelas metades.

domingo, 30 de outubro de 2016

Fui eu que permiti, que se escrevesse essa história.
Eu que quis protagonizar,
e agora agonizo,
como se não tivesse escolha,
balbucionando mentirinhas delicadas pro espelho.

"a culpa é cristã, eu não."

Você falaria em passado, pra consolar,
crendo piamente que adiantaria,
mas nos mentiram isso também.


não tem borracha que apague o já sentido.

Mas o tempo diz que tem um suvenir que adianta...
numa de tantas quitandas de interior.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Dança

De possuir coração ritmado, dancei...
Pelas ruas, praças, sem sapatos,
em pequenos palcos,
que não eram, mas se tornaram...
Como eu também não era, e passei a pássaro,
bailarina, uma lagartixa,
ou qualquer outra coisa, mística,
por que não se explica,
como uma sensação.

De possuir coração ritmado,
sempre há uma música que ouço dentro,
e que instiga os pés,
que balança a cabeça,
que inicia uma coreografia,
sem par...
Por favor sem par!

Só me deixa dançar,
como me dançam as horas,
e algumas pessoas,
e uns pensamentos, que invadem o salão,
e se retiram tontos,
os que não sabem girar.
Tão institiva, que até quando perdida,
pensava estar menos perdida
que da última vez.
Batia palminhas para seu próprio tato,
preciso no escuro,
encontrava certos escondidos,
de todas as formas,
normalmente o que procurava outr´ora.
Mas para isso não contava com o tempo,
o que importava era se encontrar,
ou encontrar alguma coisa.
Na primeira de muitas vezes,
por um lado, conseguia os dois...
Na segunda, de outras vezes, errava tudo.
No começo é sempre engraçado.
Depois...
Mas era tão institiva, que até quando perdida
pensava estar menos perdida que dá última vez...
(Repete_Patrycia Waltrick)

Arabescos (trechos)

I.
Não sei quem planta expectativa,
mas conheço a semente.
Devem ser os pássaros que derrubam dos bicos,
porque voam.
Aqui no quintal, parece festival de penas e cantos,
e sempre tem coisa brotando,
mesmo com minhas unhas limpas.

II.
Tenho que administrar o que quero,
pra que o universo não se atole de mim,
pra que ele não se confunda,
nas minha insônias confusas.
Mas das cinco até o sono, eu sou só querer.

III.
Vou fazer um diário,
espero não escrever seu nome
a partir da terceira folha.

Dor de garganta

Você é só palavra, ela falou.
Bem assim:
" você-é-só-palavra! "
E eu fiquei, com palavras trancadas na garganta,
e no dia seguinte jatos e jatos de própolis com mel,
duas folhas de malva, água morna e uma colher de sal.
Palavras nos cigarros apagados no incensário antigo que virou cinzeiro,
cinzeiro de incensário antigo cheio de palavras cinzas,
Palavras em negrito nos pedações de pulmão na pia de manhã,
palavras roxas de olheira.
As portas quebradas do guarda roupa de infância,
escritas as palavras inocentes,
nas paredes do quarto de dormir estavam as palavras de sonhos recorrentes,
nos cadernos de rascunho, rasuradas as palavras de devaneios,
até na pasta de protocolo de desenhos,
tinham as palavras de 6b e faber castell.
No pente de cabelos, fios de palavras emaranhadas,
na mesma letra emendada das palavras das entranhas,
palavras escondidas nas rachaduras da boca,
palavras arrepiadas no bico dos seios.
E eu com palavras trancadas na garganta,
só queria dizer: -olha aqui ó moça....
....
...
Mas as palavras não saíram.







domingo, 23 de outubro de 2016

Espero a tua fome

A noite tem dessas coisas,
de acender algo, fervilhar outros, borbulhar alguns.
Continuo cozinhando aquela ideia que te falei noites atrás.
Tenho salpicado uns temperos,
nunca fui de menosprezar paladares.
Terá recheio, se prepare.
Logo mais dá pra assoprar e provar.
Não é bolo, mas a primeira colherada é tua.
Sim, se come de colher, sem cortes...
Tem mais a ver com abertura da boca,
gosto de entregar pratos assim em grandes proporções.
A noite tem dessas coisas de desejos pesados,
assaltos á geladeiras, contrastes com calor que sinto,
aqui...
Nessa casa que habito, nessa particular cozinha que cozinho.
Fervo àquela ideia de noites atrás,
Dá pra sentir o cheiro portar afora,
A mesma porta que te quero dentro.
Deixo esfriar no balaústre, ao relento,
espero que não demores muito.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

(lasca de lar)

Seria egoico se eu dissesse
que guardei um pedaço de mim
em um ninho que construí...

Parecido com esse que constróis
sem ver que pouco a pouco traz ramos
grudados à sua roupa?

...E que o pedaço foi extraído
de um dia tão bom,
que eu poderia crer que era o melhor
que já extraí?

E se eu contasse que volta e meia, eu abro ele pra que eu lembre...
E se dissesse meio apaixonada...
Que só de abrir, o ambiente se inunda de cheiros,
de cores, de músicas, de filosofias
que já me eram conhecidas...
Mas que foram se apagando...
Diante de tanta cultura, diante de tanto mundo?

Seria tolo se eu recomendasse?

Então não digo,
não conto,
mas algo em mim insiste que eu recomende
algo de ti.





segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Eu tenho vontade de desenhar sentimento.
O invisível visto em todo momento.

Vezes galante, vezes maltrapilha.
Sempre a mesma cara,
de frio na barriga na descida.

Vontade de desenhar das cores do sem-sentido.
Tipo esse poema, e todo o resto...

Que habita em todos os segundos-vividos,
a casinha de teto frágil,
em cima do nosso umbigo.

(Que você tinha a chave da porta da frente nº 27, verde água_Patrycia Waltrick)

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Vestido pro frio, mas nu

Queria conhecer
alguém que se conhecesse
ou tivesse no caminho
como eu, mas que as vezes também saísse da trilha.

Queria que já fosse cansado
de amar-o-amor
e só contemplasse seus momentos.

Queria alguém pra uma cerveja
seguida de outras,
que quisesse cutucar minhas filosofias
e não tirar a minha roupa.

Queria que tivesse tédio
desses joguetes tolos
que não quisesse me impressionar
mas conseguisse.



quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Tava no ônibus hoje, como todos os dias naquele horário,
e vi passar lá longe na rua, uma senhora que era eu.
Parece confuso, eu sei... Também achei quando vi.
Ela tinha a mesma corcunda que eu tenho agora, mas mais acentuada, o cabelo fino e branquinho,
de lado o cabelo, e ela também andava meio de lado,
mas com um semblante reto, na rua transversal.
Eu agradeci quem organiza as sinaleiras, ela fechou,
me deixou ser vista por mim.
Tive certeza que era eu, porque ela me deu a coordenada visual da primeira andorinha que a gente viu esse ano.
A gente riu, a gente gosta ainda....
Não sei quantos anos a gente tinha lá fora do ônibus.
Tenho certeza que nem ela sabia, sendo que hoje já me confundo...
Parto pros dedos, e conto causos estranhos que não lembro o final.
Ela carregava uma bolsa, e queria eu saber o que eu carregava ainda, já naquela idade, que não sabíamos qual era.
Ela tava indo encontrar o amor, mas não sei onde ela ia.
Sei porque ainda que fosse o final, eu iria.

(De "manhã-cedo", eu, minha velha e a andorinha

metaforicamente-falante

Agora que já engatei a primeira,
dessa vida sem esteira,
mas quase sempre a beira,
de alguma coisa grande...

Vou me desengatar do maquinário,
Dessa sinopse "dark" de algum diretor sem esplendor...

Vou ser o que incomoda, coisa que eu sempre ensaiei sozinha,
mas nas mais belas " piores companhias" que alguém que pode ter.

Vou ser a mulher que não se encaixou no papel desse Hollywood da realidade,
(Graças a Deusa) e vou sair rindo, sendo...
Isso, sem reverência,
cheia de referências, reciclagens...

Agora que eu já engatei a primeira,
pouco importa se você apertou o cinto,
ou saiu pela porta.
Já tô partindo.