quarta-feira, 27 de julho de 2016

Roupa de ficar em casa

Cê não repare na bagunça não.
Tô de mudança,
isso,
tempo todo, rssrs
Cê pode dar a volta que ali no cantinho tá meio fresco ainda, sem brita, sensíível...
Seria melhor se não tocasse, caminhos novos já com rastros ficam um tanto irreparáveis, só com camadas e camadas, e...
Pode sentar ali, do lado daquela montoeira de coisas empilhadas..
Cê quer café?
Quer com leite?
Gosta de amenizar as coisas?
Tô sem cortina ainda, mas gosto como a luz entra nessa parte ali onde vou por alguma coisa com um vaso de flor em cima..
Aquele quadro ali? ah foi uma paixão devastadora, não lembro o nome... Que me deu...
Bonitinha a lua né, uma graça...
Eu? Vou bem, nossa, bagunçada, bagunçada mas quase em paz.
As vezes nem lembro da idade, vinte e poucos, sem carreira sem filhos sabe como a sociedade me chama?
Já com rugas, ainda criança.
Desculpe perguntar essas coisas, é que eu nunca sei...
Porque veio?
Melhor aquela parede em branca ou verde claro?

terça-feira, 12 de julho de 2016

Das coisas que deixo, das coisas que peço

Eu deixo as malas na varanda,
os lamentos ensaboados na pia,
o carro na contra-mão de qualquer via.

Eu deixo as vergonhas expostas,
as cartas amarelarem, sem resposta,
os duendes secarem as maçãs.

Eu deixo que se formem teias.
Que as bruxas montem um coven no meu jardim,
ainda que sem mim...

Eu deixo que seque a roupa no varal,
deixo que arda todo o sol,
que caiam estrelas cadentes.
Guardo pouca coisa pra mim,
sempre conto os pedidos no fim.

Eu deixo que se realizem, todos os fechamentos de ciclos,
planejo todos os Sabbath, rezo pra Gaia,
Virgem Maria, ou Iemanjá.

Nem toda santíssima personificação deve ser surda.
Deixo o que tiver que deixar,
alguma tem que escutar.
Alguma que te instigue a ficar.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Na geladeira: Pegar Felicidade 17:35 na estação B do metrô onde a deixou.

Pra minha felicidade, tenho um colchão no armário, duas cobertas ensacadas,
escova de dentes da cor que ela gosta...E bolo pronto, pois não sei de doce.
Pra ela eu troco as flores, queimo incensos leves, escovo os tapetes...
Quando ela anuncia que tá vindo, eu já vou até rindo, sei dos planos da danada.
Quer me levar á noitada, dar uma guinada, como se eu as vezes fosse leme perdido no vento,
desmitificar meu nada (que sempre me afundo) ai ela chega e me joga no mundo, toda empolgada,
como se soubesse a jornada, e eu sempre esquecesse.
Ela parece até que tem sirene que toca, quando eu toco, toco e não sinto nada,
ela parece palmada que se dá, quando a criança nasce e diante do mundo, fica chocada.
Eu choco, choco, como carrinho de choque, e ela sempre chega pra me indicar onde estacionar,
dar sinal, e por onde de novo ir.
Pra minha felicidade, eu até mexo com panela de pressão, hoje vai ter feijão...
Ela tá de chegada...

De passagem, eu agora já sei,
depois de tanto contemplar a janela...
De passagem, sim,
mas de mudança também.