quinta-feira, 10 de novembro de 2016

mau grad(t)o

Então eu fiz assim
joguei os papéis todos no teu colo
os multi rasurados escritos em guardanapos
os palavrões,
os sussurros traduzidos nas linhas azuis dos cadernos brochurão Tilibra.
As palavras que eu mesma escrevi e já não conseguia ler.
Os bilhetinhos com desenho nas bordas.
Os brancos amassados que não sei por que não joguei fora.
Tudo no teu colo, horas e horas de mim,
alguns com remetente descrito, nunca remetidos,
mastigados até o fim na minha boca, vomitados ali,
e guardados cheirando no armário, a minha falta de coragem.
No teu colo esse eu de todas as cores de canetas,
todas as grossuras de letras, as finesas, os borrões.
E você que esbravejava o nunca me conhecer,
me chamou de acumuladora, me acusou de passageira, de remota,
certeira na tua fratura exposta, me romantizou ciúmes,
se disse puro e punido.
E nem uma vírgula foi lida,
antes de jogar tudo pro ar.
Teu colo é vão, guarda só falo e eco.
E eu que te li desde o começo,
só agora escrevo tua resenha curta:
livro ruim esse intitulado nunca mais.

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