sábado, 16 de julho de 2011

Se vê.

Ela chegou assim, sorrateiramente na calada de uma noite que não era uma noite qualquer. Ela chegou como chega a chuva no fim de tarde, e me pegou desprevenida.Chegou em uma noite que eu era um feixe de luz, que minha alegria cintilava e ofuscava aquele dentro triste que ainda existia. Ela chegou como gato vagabundo que pisa nos telhados sem fazer barulho, mas em mim, ela fez alarde.
Poderia tocá-la se assim quisesse, pois tantas vezes ela deixou a mão vagando perto da minha, mas temi que ela esquivasse, não sei como ela se fazia, se-fazia-se.
As palavras que foram trocadas em outros dias, em tantos outros, foram a melhor barganha, ela parecia ter nos bolsos todas as peças perdidas do meu quebra cabeça. Eu me via no olho dela, e acho que ela se via também no meu, mas nunca me falou se via dentro dela o que eu via dentro de mim, quando ela vinha descendo a rua.
Eu nunca falei em amor com ela, acho que me proibi de qualquer coisa que apressasse as coisas, e eu que sou toda ás pressas, me contrário por um cuidado, um zelo que ela não me cobra e eu dou de graça.
Há alguns dias desses que nascem e morrem, dia como todo santo dia, ela deixou a mão vagando e alguém segurou, alguém que decifrou nela uma pressa que minha calma me impediu de ver. Minhas mãos vagam hoje.
Me perco em meus cuidados como quem erra tentando acertar. E eu que só queria saber dela, se ela via isso que eu vejo, que nos ronda,mesmo ela atando a mão aquela outra.

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